sábado, 25 de dezembro de 2010

Patins

Meu nome é Ana. Moro em uma rua tranqüila de um bairro tranqüilo da minha cidade e conheço todos os meus vizinhos, pois moro na mesma rua e na mesma casa desta criança. Estou aqui hoje para contar uma história que aconteceu no natal alguns anos atrás.

Tenho uma vizinha viúva que tem duas filhas, uma delas se casou teve dois filhos e o marido a abandonou. Teve que voltar pra dentro da casa da mãe devido à situação financeira. O pai das crianças nunca a ajudou em nada, está sumido neste mundão de meu Deus, ninguém mais soube do seu paradeiro. A outra filha formou-se e foi trabalhar em outro estado. Lá se casou e adquiriu família.

Bom quando chega dezembro, todos ficam eufóricos por conta do natal, as crianças então nem se fale, já vão logo escolhendo o presente que querem ganhar, falam nisto o mês inteiro. Por época esta história a febre entre a garotada do bairro era o patins. Toda a criança queria ganhá-los. Lembro-me bem, porque o filho da minha irmã também ganhou.

Como o filho da minha vizinha não foi diferente, eles também queriam patins. Só que, tanto a avó, quanto a mãe não tinha dinheiro para comprá-los, porque ganhavam pouco, Não podia desviar dinheiro para um presente tão caro. Porque se fizesse isso, iria faltar comida na mesa. E eles passaram o mês inteiro falando a respeito do presente. O mais velho tinha certeza que iria ganhar do padrinho. O mais novo dizia que a tia iria mandar pra ele pelo correio e viveram esse sonho até no dia de natal.

Realmente o mais velho, ganhou os patins do padrinho conforme dizia, mais o mais novo coitadinho não ganhou. Toda criança saiu para a rua com seus patins para brincar e o Carlinhos coitado, ficava correndo atrás das crianças uma cena muito triste de se ver. Lembro-me bem que minha irmã entrou para dentro de casa chorando, me contou toda a história. Ainda disse que se tivesse dinheiro iria dar um jeito de comprar uns patins para ele. Porque criança tem todo o direito de brincar e sonhar. Que ninguém deve matar os sonhos de uma criança. No que concordei com ela.

Fiquei um bom tempo na porta de casa olhando as crianças brincar com seus patins. Vendo o Carlinhos correndo atrás das crianças. Pensando que neste dia, todas as lojas estavam fechadas. Foi quando vi uma outra vizinha que também tinha filhos pequenos, enfileirando todas as crianças para fazer trenzinho com eles, a ouvi dizendo para o Carlinhos, sai pra lá, você não tem patins não pode ficar aqui. Ele saiu chorando e sentou no meio fio perto de mim. A avó dele estava no portão da casa dela também, vim que ela entrou pra dentro chorando por ver a situação do neto.

Então o chamei. Disse para ele Carlinhos, não fica triste, pois o natal ainda não acabou espere que você também ira ganhar os seus patins. Ele me disse chorando, Como tia Ana? Se Minha avó e minha mãe não têm dinheiro e minha tia disse que na cidade dela não tem patins? Respondi, espere Carlinhos. Creia que você iria ter o seu natal feliz e que até o final da tarde estará brincando com todas as crianças de patins.

Com isso entrei para dentro de casa. Falei para minha irmã não sei como vou fazer, mais preciso comprar um par de patins e dar de presente para o Carlinhos, pois você tem razão toda criança precisa ter fantasias, viver, sonhar para se tornar um adulto feliz. Foi quando o meu irmão disse conheço um moço que trás mercadoria do Paraguai. Pode ser que ele tenha patins para vender. Falei para o meu irmão liga pra esse moço. Veja se está em casa, se tem os patins. Ele ligou e voltou dizendo ele ainda tem dois pares. Dei o dinheiro para ele. No que foi depressa até a casa deste moço que mora em um bairro vizinho ao nosso e comprou.

Não fui à casa do Carlinhos entregar o presente, Minha irmã foi. Ela me disse que ele chorava e pulava de alegria, sua mãe e sua avó também choravam por ver a alegria dele. Quanto a mim, voltei ao portão de casa para vê-lo brincando com as crianças. Ele veio correndo, me abraçou, me disse. Tia Ana obrigada, você disse que eu ia ganhar os patins e ganhei mesmo. Estou tão feliz! Abraçou-me com tanto carinho que para mim foi o melhor presente que podia ganhar.

Porque pode fazer a alegria de uma criança.

Lucimar Alves


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